quinta-feira, junho 01, 2006

Diálogos pueris I

Ele: Se não tivesse necessidade num vinha, q'hoje está ruim. Dos dias todos do ano, este é o mais bravo! [vento seco]. Mas você sim, você vem toda bonita!
Ela: [a entrar no autocarro] Lá vou para o médico... Isto, uma pessoa basta num bir em coiro que já está asseada...
Ele: Ora, também assim digo.
Ela: Vou lá tratar da baixa da minha filha, q'o meu neto foi operado e ela tem que tomar conta dele.
Ele: E quê? Foi grave?
Ela: Foi à garganta, coitado. Não pode levar c'os cobertores de noite q'abafa; não pode correr que cai com a aflição... Mas o médico diz que mais vale sofrer agora em novo, senão quando tal passava a carneiro morto.... o coitadinho....
Ele: E inda é muito novo ou quê?
Ela: Tem 12 anos, anda em 13.
Ele: Oh diacho, então! Sinda ó menos fosse entradote!... Você conhecia o marido da dona Eduarda? Tão novo e lá se foi. E olhe, também foi com uma coisa ruim na garganta!
Ela: Então não conhecia?!... Tinha 51 anos o pobre....
Ele: Nããã!!! Tinha mais... Já andava nos 70!
Ela: Isto, tantas vezes o digo, antigamente é que era! Num comíamos sopa; era caldo de lavrador e o pão q'o diabo amassou. Escravatura, fome de cão, a ceibar o campo o dia inteiro e o povo inda cantava. Isso é q'era uma reinação!
Ele: Você pode num acreditar qu'eu era mais feliz na altura com dois tostões no bolso do q'hoje com cem contos! Mas olhe q'é a verdadinha.
Ela: E eu que ganho 113 contos só para mim?! Chega-me e sobra-me! Mas porra lá pró dinheiro se num tenho alegria pró gozar!!
Ele: Olhe, também assim digo. Que Deus me perdoe, mas quem me dera me levasse daqui, q'isto já num está para nós. Antes a morte à cama!