segunda-feira, novembro 20, 2006

Diálogos pueris XIV

Ele: Conheci o gajo que anda com ela.
Ela: E então?
Ele: É psicólogo!
Ela: Mas falaste com ele?
Ele: Claro! Começou logo a falar da infância...
Ela: (risos)
Ele: Mandei-o logo parar!
Ela: Que simpático! (risos)
Ele: Claro! Disse-lhe que conhecia bem os truques da psicologia e que se ele queria que eu falasse da minha infância eu podia falar sem ter que ficar a ouvir a dele!
Ela: E falaste?
Ele: Achas?!
Ela: Então, falaram de quê?
Ele: Perguntei-lhe qual é o denominador comum das relações dele...
Ela: E ele?
Ele: Ficou a olhar para mim.
Ela: E?
Ele: Topei-o logo! Dei a resposta por ele.
Ela: Qual é a resposta?
Ele: Disse-lhe que ele se fartava depressa das pessoas.
Ela: Ele concordou?
Ele: Claro.
Ela: É o clássico da mistura entre o lado profissional e o pessoal?
Ele: Completamente!
Ela: Quando deixa de ter uma pessoa para salvar perde o interesse?
Ele: Exactamente!
Ela: O que quer dizer que não acreditas na relação deles...
Ele: Não.
Ela: E isso deixa-te feliz?
Ele: Obviamente.

Diálogos pueris XIII

Ele: Há quanto tempo comecei a contar-te histórias de mulheres umas a seguir às outras?
Ela: Hmmm, não sei.
Ele: Há dois anos, mais ou menos, não foi?
Ela: Não sei, a sério. Mas sim, houve uma altura em que não eras assim. Ou, pelo menos, não contavas...
Ele: Eu não era assim! Por que achas mudei?
Ela: Não faço a mais pequena ideia.
Ele: Mudei há dois anos quando descobri que ela andava com três gajos ao mesmo tempo. Comigo, quatro. Sei que não é desculpa, mas nunca mais ficas igual...
Ela: Ficas como?
Ele: Como tu vês. Nem foi a traição que me mudou - sou relativamente tolerante em relação a isso. Foi a mentira. Não suporto a mentira!
Ela: Que mentira?
Ele: Quando, por mero acaso, descobri tudo, ela pediu desculpa, chorou, disse que não voltava a acontecer. Três meses depois percebi que estava tudo igual. E ela a insistir que não!!!
Ela: Podias ter acabado nessa altura...
Ele: Pois podia...
Ela: Mas não acabaste...
Ele: Pois não...
Ela: Porquê?
Ele: Não sei. Mas acho que foi nessa altura que perdemos o respeito um pelo outro. Deixámos de nos conseguir ver por dentro, de nos valorizarmos. Ambos dormíamos com outras pessoas, ambos sabíamos... e nenhum dizia nada...
Ela: Até que ela se cansou disso...
Ele: Sim...
Ela: Se calhar, ainda vais agradecer ela ter acabado...
Ele: Já estou a agradecer. Agora quero assentar. Quero casar e ter filhos, sabes?
Ela: Não.
Ele: Não?!
Ela: Queres casar e ter filhos com quem?
Ele: Ainda não sei. Estou tão carente que tenho medo de me prender à primeira mulher que me der atenção... mas é mesmo isso que eu quero...
Ela: Tu?! E achas que vais conseguir?
Ele: Claro!
Ela: Um amor exclusivo e para sempre?
Ele: Sim. Seduzir é bom, fortalece o meu ADN físico. Mas agora estou só interessado no ADN da alma.

Diálogos pueris XII

Ela: Achas que a maior parte das pessoas vive a vida pela metade?
Ele: Estás a falar só de relações-a-dois?
Ela: Sim.
Ele: Mas isso é óbvio, não é?
Ela: Não sei... não...
Ele: Porra! Há anos que me fazes essa pergunta e há anos que te dou a mesma resposta! Não!!! Não há relações perfeitas! Não há contos de fadas! Não há ninguém que se encaixe completamente no nosso ideal! Não há dias inteiros felizes! Nem semanas, nem meses...
Ela: Mas tu disseste que estavas apaixonado...
Ele: E estou. E daí?
Ela: E isso não te faz ver as coisas de outra forma?
Ele: Estás a perguntar se vou deixar de paquerar outras mulheres?
Ela: Sim... isso também...
Ele: Não percebo! Juro que não percebo! Tu continuas a mesma palerma de sempre!
Ela: Vá, olha o insulto!...
Ele: Ó pá, a sério! Não vou deixar de dormir com outras mulheres porque isso não existe, entendes?!
Ela: Não...
Ele: Não existe, porra! O que existe é uma de duas opções: ou te entendes sexualmente em casa e procuras cumplicidade intelectual fora de casa ou o contrário. E o contrário é bem mais fácil de conseguir. E mais habitual!
Ela: É isso que tu fazes?
Ele: Tu sabes que sim...
Ela: E consegues ser feliz assim?
Ele: É a felicidade possível. Não há outra. Para ninguém. A monogamia não existe!
Ela: O que acabaste de dizer é...
Ele: ... É horrível, eu sei! Para a tua cabecinha é horrível. Mas quantas pessoas ambos conhecemos, por exemplo, que vão às putas ou que têm necessidade de foder, pelo menos uma vez por semana, com travestis?
Ela: Ninguém! Eu não conheço ninguém.
Ele: Isso é o que tu pensas! Conheces muitas mais pessoas do que julgas!
Ela: Estás doido!
Ele: As pessoas nunca contam o lado mais obscuro da sua vida. E acredita que toda a gente tem um.
Ela: O que prevalece sempre para lá disso tudo?
Ele: No meu caso?
Ela: Sim.
Ele: As minhas filhas.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Diálogos pueris XI

Ele: Não vais acreditar!!!
Ela: Em quê?
Ele: Estou na merda!!!
Ela: Sim, isso já vi. Mas porquê?!
Ele: Acreditas que fiz 100 quilómetros de propósito só para lhe dizer que troquei tudo por ela e ela disse que agora já não quer???
Ela: Já não quer o quê?
Ele: Namorar comigo, claro!
Ela: (risos) Quantas vezes já lhe disseste isso?
Ele: Mas desta vez é diferente. Não estás a entender! Disse aos meus pais e tudo...
Ela: (risos) Aos teus pais?! É bonito. Há quantos anos é que isso dura?
Ele: Há cinco, acho eu...
Ela: Ela nunca te pediu para oficializarem a relação, pois não?
Ele: Não. Mas toda a gente sabe que ela é maluca por mim! A minha mãe está sempre a dizer isso... Passou-se! Só pode!...
Ela: Se calhar quer só mudar de vida. Tu sabes que este ano é importante para ela.
Ele: Foda-se! Também para mim!
Ela: Mas ela sempre esteve só contigo; tu estiveste com ela e com mais quantas?
Ele: Sim, mas ela sabia! Traí as minhas namoradas todas com ela. Acabei com todas por causa dela!
Ela: Foste acabando com uma e começando com outra. Nunca namoraste realmente com ela.
Ele: Ia namorar agora e ela não quer! Achas normal?
Ela: O que é que ela te disse?
Ele: Já não sei. Perdi a cabeça.
Ela: Ui, perdeste a cabeça?!
Ele: Perdi.
Ela: Porquê?
Ele: Porque acho que ela está mesmo a falar a sério.
Ela: Se calhar demoraste muito tempo... Cinco anos é muito tempo...
Ele: Logo agora, já viste?
Ela: "Logo agora" porquê?
Ele: Fui hoje do médico...
Ela: E então?
Ele: Disse-me que já não estou doente.
Ela: Acabou a quimioterapia?
Ele: Pelos vistos...
Ela: Mas isso é uma boa notícia!!!
Ele: Que se foda a boa notícia!
Ela: Não brinques!
Ele: A sério! Preferia continuar doente. Pelo menos, sabia que ela não ia embora...
Ela: Querias que ela estivesse contigo só por estares doente?
Ele: Não. Mas eu só andava com as outras por causa disso...
Ela: Por estares doente?!
Ele: Porque achava que tinha que viver tudo depressa. Porque achava que não ia ficar curado. E não queria que ela ficasse presa a uma pessoa que ia morrer...
Ela: Disseste-lhe isso?
Ele: Disse. É a verdade.
Ela: E ela?
Ele: Disse que sempre me tinha dito que eu ia ficar bom.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Diálogos pueris X

Ele: Ela perguntou-me se eu já tinha visto um arco-íris duplo...
Ela: E tu?
Ele: Respondi-lhe que sim: quando estou com os copos. E de manhã, depois de noites longas.
Ela: E ela?
Ele: Disse-me que os arco-íris duplos existem. Que tinha acabado de ver um. E que não estava com os copos.
Ela: Ficaram por aí?
Ele: Disse-lhe para deixarmos a precisão da incerteza vingar.
Ela: O que é que isso quer dizer?
Ele: Sei lá. Os jogos linguísticos divertem-me, mas preservo sempre uma confortável margem de segurança. Não faço qualquer tipo de colagem ao real.
Ela: Achas que ela está apaixonada por ti?
Ele: Não. É demasiado esperta para isso.
Ela: As pessoas espertas não se apaixonam?
Ele: Apaixonam, mas depois sabem recentrar o olhar ou assobiar para o lado.
Ela: E se ela estivesse apaixonada?
Ele: O desfecho teria sido outro.
Ela: Qual teria sido?
Ele: Teria imperado o silêncio.
Ela: Alguma vez saíste com ela?
Ele: Não.
Ela: Porquê?
Ele: Porque a minha mulher teria sabido antes de eu chegar a casa.
Ela: És muito controlado?
Ele: Dead serious!

quarta-feira, outubro 11, 2006

Diálogos pueris IX

Ele: Voltei para a minha namorada.
Ela: A sério? Deixaste a outra?
Ele: A outra, como tu dizes, nunca foi a outra.
Ela: Como não?
Ele: Estava com ela porque gostava de estar com ela.
Ela: Imagino que sim, mas...
Ele: A sério. Ela tem qualquer coisa que as outras pessoas não têm e fazia-me bem; fazia-me feliz. Não a teria trocado por ninguém.
Ela: Mas trocaste...
Ele: Não foi bem trocar, porque ela nunca foi realmente minha.
Ela: O que é que mudou?
Ele: Não é bem o que mudou; é mais o que nunca poderíamos mudar...
Ela: Ou seja...
Ele: O passado. A vida que tivemos antes de nos conhecermos.
Ela: Não estou a perceber.
Ele: Tenho uma utopia. Sabes o que é que eu queria para acabar de a construir?
Ela: Não. Conta.
Ele: Queria tê-la conhecido há muitos, muitos anos; queria ter convivido com ela desde sempre para que as coisas que lhe disse pudessem ter tido um sentido diferente, para que quando estávamos em grupo não tivéssemos que ter falado por meias palavras...
Ela: Mas isso também tem piada, não?
Ele: Não.
Ela: Ok. Ela está magoada contigo?
Ele: Mais ou menos. Mas eu sei que ela sabe que eu estava com ela porque queria, porque era livre e porque isso me dava prazer. E não porque era obrigado ou porque alguém me tinha pedido.
Ela: Alguém te pediu para voltares para a tua namorada?
Ele: Não. Mas é diferente.
Ela: Diferente como?
Ele: A minha vida era simples: ia à universidade, estava com os amigos, tomava café, falava sempre das mesmas coisas... Só quando chegava a casa dela é que me tornava especial, falava de coisas especiais, das coisas que interessam mesmo, sabes?
Ela: Porra, mas então porque não ficaste com ela?
Ele: Porque gostava muito de estar com ela, mas percebi que quando não estava, a minha vida não era um pesadelo.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Diálogos pueris VIII

Ele: Preferia que ela tivesse acabado tudo comigo quando eu mereci...
Ela: O que é que teria mudado?
Ele: Talvez ainda estivéssemos juntos hoje.
Ela: Mas lembraste-te disso agora? Quando ela não vivia sem ti, tu sentias-te sufocado. Era isso que costumavas dizer, não era?
Ele: Porque não suportava a maneira como ela me via! Estava farto de ser tratado como uma pessoa bonita e diferente e especial...
Ela: Porquê?
Ele: Porque sabia que não era nada daquilo. Sentia que a estava a enganar.
Ela: Isso era suficiente para o que lhe fizeste?
Ele: Fui burro. Sempre soube que quando conseguisse atingir a imagem que ela tinha de mim já não estaria com ela.
Ela: Se sabias, por que é que não tentaste evitar que ela fosse embora?
Ele: Porque durante muito tempo achei que gostava mais dela pelas cartas que ela me escrevia do que por aquilo que ela era...
Ela: Mas nós também somos aquilo que escrevemos, não é?
Ele: Na altura, não achava isso. Na altura, achava-a só demasiado perfeita, demasiado esquematizada. E isso fazia-me ter medo que a minha vida não fizesse sentido.
Ela: Desculpa, não entendi.
Ele: Sentia que com ela ao meu lado nunca iria crescer.
Ela: Cresceste sem ela?
Ela: Não sei.
Ela: Tens saudades? De quê?
Ele: Da força dela. De como conseguia fazer-me acreditar que a vida vale a pena.
Ela: Já não vale?
Ele: Sempre lhe disse que se ela me deixasse nunca mais reconstruiria a minha vida. E isso, pelo menos, cumpri.

domingo, outubro 01, 2006

Diálogos pueris VII

Ela: Agora também apareces nas revistas a exibir a casa e o casamento?
Ele: Já não há casamento.
Ela: Desculpa?!
Ele: Quando a revista saiu já estávamos separados há dois meses.
Ela: Estás a gozar?!
Ele: Não. Infelizmente, não estou.
Ela: Divorciaste-te?
Ele: Oui.
Ela: Meteste o pé na argola em menos de seis meses?!
Ele: Não fui eu.
Ela: Como assim?
Ele: Descobri, ainda durante a lua-de-mel, que ela tinha outra pessoa... Ainda por cima, um azeiteiro!
Ela: Só podes estar a gozar...
Ele: Não estou.
Ela: Não pode ser...
Ele: Pode, pode...
Ela: Como é que descobriste?
Ele: Pelo telemóvel. Ela levava-o para todo o lado, até para a casa de banho...
Ela: Confiscaste-lhe o telemóvel?
Ele: As mensagens, sim.
Ela: E?
Ele: E havia frases a dizer "amo-te" e outras merdas do género...
Ela: E continuaste com ela mesmo sabendo isso?
Ele: Ela ainda é uma miúda. Pediu-me desculpa. Achei que podia salvar o casamento.
Ela: !!!
Ele: Depois percebi que ela só estava interessada no meu dinheiro.
Ela: Ela disse isso?
Ele: Disse que o que eu ganho não era suficiente para ela.

sábado, setembro 30, 2006

Diálogos pueris VI

Ele: Estou desfeito. Ela conseguiu destruir tudo o que sou.
Ela: Acabaram tudo?
Ele: Acabaram não, ela acabou.
Ela: Antes ou depois das férias?
Ele: Durante.
Ela: Mas ela ia pedir-te um filho durante as férias...
Ele: Ia?! Não ia... Arquitectou um plano para me destruir... E conseguiu...
Ela: Traiu-te?
Ele: Também.
Ela: Mas isso não pode chegar para te deixar nesse estado. Tu traíste-a a vida toda...
Ele: Não foi só isso. Foi pior.
Ela: Pior como?! À partida, só a perda do amor da nossa vida pode deixar-nos assim e tu sempre disseste que ela não era o amor da tua vida...
Ele: Mas era...
Ela: Passou a ser subitamente só porque te deixou?
Ele: Não.
Ela: Então?
Ele: Tinha percebido antes de ela me deixar.
Ela: E disseste-lhe?
Ele: Pedi-a em casamento.
Ela: E ela?
Ele: Disse que era tarde demais.

domingo, setembro 24, 2006

Diálogos pueris V

Ele: Nunca mais consegui refazer a minha vida.
Ela: Tanga. Já passaram dez anos!!!
Ele: Dez anos de sofrimento.
Ela: [risos] Tu é que sofreste?!
Ele: Sim, eu. E continuo. Por isso é que não consigo ser teu amigo.
Ela: Isso é ridículo. Então, nunca chegaremos a ser.
Ele: Não acreditas que continuo a sofrer? Que nunca mais tive nenhuma relação séria?
Ela: Claro que não! Tiveste pelo menos uma namorada. Lembro-me de te ver com ela.
Ele: Não durou muito. Ela não tinha paciência para mim.
Ela: Eu tinha?
Ele: Também não.
Ela: Então o problema deve ser teu.
Ele: Pode ser. Mas no nosso caso, a culpa foi tua.
Ela: Minha?! Tu é que me traíste, lembras-te?
Ele: Era fraco. De repente, parece que era assediado por todas mulheres... mas mudei.
Ela: Quer dizer que não me traíste só uma vez?
Ele: Não.
Ela: Quantas? Lembras-te?
Ele: Algumas. Mas todas sem importância.
Ela: Uau!
Ele: Sem importância, a sério. Eu gostava de ti. Teria ficado contigo até hoje.
Ela: Dez anos depois, eis o sound byte do dia. Devia ter imaginado.
Ele: Mas tu fizeste pior...
Ela: [risos] A sério? [risos, risos, risos] O que é que eu fiz? Isto é, além de ter continuado contigo mais não sei quanto tempo?
Ele: Tu tinhas aquele teu melhor amigo.
Ela: [risos] A sério?! Tinha?! E isso é grave? É que ainda o tenho. É o meu melhor amigo há 20 anos. E?!...
Ele: E eu tinha ciúmes dele.
Ela: E por isso desataste a sair por aí... porque eu tinha um melhor amigo?!
Ele: Sim. Para me vingar. E tinha razão...
Ela: Tinhas?!
Ele: Tinha. Tu continuas a ser amiga dele. E eu continuo sozinho.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Diálogos pueris IV

Ele: Não fui eu que inventei a infidelidade. Ela já existia antes de mim. Eu sou só como os homens todos.
Ela: Há homens fiéis. Eu conheço muitos.
Ele: Eu conheço muitos mentirosos.
Ela: A tua mulher sabe isso?
Ele: Não faz perguntas para não ouvir as respostas. E sabe que o nosso casamento é uma instituição inabalável.
Ela: Inabalável como?
Ele: Inabalável. O nosso casamento é uma espécie de SA. A máquina - os filhos, a casa, a vida social, o médico e a escola das crianças -, nunca deixa de funcionar. Depois, há o resto.
Ela: O resto?!
Ele: Sim, a adrenalina, o contrário da rotina. O casamento deixa de ser divertido em muito pouco tempo. E a vida é uma passagem rápida. Não se pode desperdiçar.
Ela: E a cumplicidade fica de que lado?
Ele: Do lado de fora. A cumplicidade é o lado bom da vida.
Ela: A cumplicidade não é bem isso. Adiante. Quantas vidas paralelas consegues manter?
Ele: Normalmente, duas. A minha mulher e a outra. Tive uma que durou dois anos.
Ela: Dois anos não é rotina?
Ele: Não, porque não havia as obrigações. Não havia os chinelos e o robe...
Ela: E porque é que acabou?
Ele: Porque ela queria casar. As mulheres querem sempre casar!
Ela: Nunca vacilaste?
Ele: Vacilar como?
Ela: Nunca te apaixonaste por um desses casos? Nunca tiveste vontade de começar tudo outra vez, e dessa vez a sério?
Ele: Não. Ou melhor, talvez. Mas espero que passe. E passa sempre. A minha única preocupação é fazer a minha mulher feliz.
Ela: Fazê-la feliz? Achas que ela é feliz?
Ele: Tenho a certeza.

segunda-feira, julho 10, 2006

Diálogos pueris III

Ele: Estou outra vez com problemas.
Ela: Então?
Ele: Lembras-te daquela nova amiga que te falei?
Ela: Sim.
Ele: Desbundei-a.... Desbundámo-nos...
Ela: Já?!
Ele: O que é que queres? As gajas estão sempre prontas para abrir as pernas [risos]!
Ela: A iniciativa foi dela?
Ele: Acho que sim. Ela já tinha dito que me queria desbundar, mas achei que estava na tanga. Olha, afinal, não estava [risos].
Ela: Mas qual é o teu problema? Não foi bom?
Ele: Não é isso. Mas falta qualquer coisa, entendes?
Ela: Não estás apaixonado?
Ele: Não. E acho que já não vou chegar a estar.
Ela: Como é que sabes?
Ele: Não sei.
Ela: Mas queres continuar a estar com ela?
Ele: Também não sei.
Ela: Quando estás com ela é bom, mas quando não estás também é... É isso?
Ele: É. No fim, quando ela começa a abraçar-me, já só quero ir embora. O pior é que ela, vá lá saber-se como, apaixonou-se. E não a quero magoar.
Ela: Já lhe disseste isso?
Ele: Já.
Ela: E ela?
Ele: Primeiro, disse que sentia que eu me estava a afastar; depois, disse que afinal estou no mesmo sítio - ela é que mudou: está mais perto.
Ela: Isso é bonito.
Ele: Isso é uma merda!!!
Ela: Não é nada [risos]!
Ele: Claro que é!! Realmente, não se pode confiar nas gajas! Primeiro dizem que querem desbundar e tal, que não há compromissos, etc... Depois, vai a ver-se e já estão a morrer de amor!
Ela: Continuarias a levá-la para a cama se ela não estivesse apaixonada?
Ele: Não sei. Mas com ela apaixonada não continuo de certeza.

segunda-feira, julho 03, 2006

Diálogos pueris II

Ele: Ela acabou tudo comigo.
Ela: Quem? A tua mulher ou a tua amante?
Ele: Claro que não foi a minha mulher!
Ela: E acabou tudo porquê?
Ele: Porque queria casar comigo. Fez-me um ultimato.
Ela: Como queria casar contigo? Não sabe que és casado?
Ele: Claro que sabe. Mas queria na mesma. As mulheres, a partir de determinada altura, querem sempre casar comigo.
Ela: É o momento do "Game over. Next player", não é?
Ele: É. Porque as mulheres são todas umas burras!
Ela: Porquê?
Ele: Porque sabem que sou um filho-da-puta como marido e mesmo assim querem casar.
Ela: E como amante?
Ele: Nunca mais voltam a ter um como eu.
Ela: A ruptura não te afectou o ego...
Ele: Não tem nada a ver com ego; é a verdade. Elas sabem e mesmo assim querem casar. Parece que não gostam de ter só o lado bom da vida.
Ela: Esse lado bom é uma mulher abdicar da sua vida, de eventualmente encontrar o seu amor exclusivo, para viver um amor pela metade?
Ele: Não é exactamente pela metade. Ela também era casada.
Ela: Não sabia.
Ele: Pois, mas era. Eu bem insisti para ela não se divorciar...
Ela: Divorciou?
Ele: Sim.
Ela: Ela também tem filhos?
Ele: Sim.
Ela: Há uma coisa que não percebo: por que estás triste se não queres casar com ela?
Ele: Porque gostava dela. Porque ainda gosto. E porque ela é uma burra.

quinta-feira, junho 01, 2006

Diálogos pueris I

Ele: Se não tivesse necessidade num vinha, q'hoje está ruim. Dos dias todos do ano, este é o mais bravo! [vento seco]. Mas você sim, você vem toda bonita!
Ela: [a entrar no autocarro] Lá vou para o médico... Isto, uma pessoa basta num bir em coiro que já está asseada...
Ele: Ora, também assim digo.
Ela: Vou lá tratar da baixa da minha filha, q'o meu neto foi operado e ela tem que tomar conta dele.
Ele: E quê? Foi grave?
Ela: Foi à garganta, coitado. Não pode levar c'os cobertores de noite q'abafa; não pode correr que cai com a aflição... Mas o médico diz que mais vale sofrer agora em novo, senão quando tal passava a carneiro morto.... o coitadinho....
Ele: E inda é muito novo ou quê?
Ela: Tem 12 anos, anda em 13.
Ele: Oh diacho, então! Sinda ó menos fosse entradote!... Você conhecia o marido da dona Eduarda? Tão novo e lá se foi. E olhe, também foi com uma coisa ruim na garganta!
Ela: Então não conhecia?!... Tinha 51 anos o pobre....
Ele: Nããã!!! Tinha mais... Já andava nos 70!
Ela: Isto, tantas vezes o digo, antigamente é que era! Num comíamos sopa; era caldo de lavrador e o pão q'o diabo amassou. Escravatura, fome de cão, a ceibar o campo o dia inteiro e o povo inda cantava. Isso é q'era uma reinação!
Ele: Você pode num acreditar qu'eu era mais feliz na altura com dois tostões no bolso do q'hoje com cem contos! Mas olhe q'é a verdadinha.
Ela: E eu que ganho 113 contos só para mim?! Chega-me e sobra-me! Mas porra lá pró dinheiro se num tenho alegria pró gozar!!
Ele: Olhe, também assim digo. Que Deus me perdoe, mas quem me dera me levasse daqui, q'isto já num está para nós. Antes a morte à cama!