segunda-feira, outubro 02, 2006

Diálogos pueris VIII

Ele: Preferia que ela tivesse acabado tudo comigo quando eu mereci...
Ela: O que é que teria mudado?
Ele: Talvez ainda estivéssemos juntos hoje.
Ela: Mas lembraste-te disso agora? Quando ela não vivia sem ti, tu sentias-te sufocado. Era isso que costumavas dizer, não era?
Ele: Porque não suportava a maneira como ela me via! Estava farto de ser tratado como uma pessoa bonita e diferente e especial...
Ela: Porquê?
Ele: Porque sabia que não era nada daquilo. Sentia que a estava a enganar.
Ela: Isso era suficiente para o que lhe fizeste?
Ele: Fui burro. Sempre soube que quando conseguisse atingir a imagem que ela tinha de mim já não estaria com ela.
Ela: Se sabias, por que é que não tentaste evitar que ela fosse embora?
Ele: Porque durante muito tempo achei que gostava mais dela pelas cartas que ela me escrevia do que por aquilo que ela era...
Ela: Mas nós também somos aquilo que escrevemos, não é?
Ele: Na altura, não achava isso. Na altura, achava-a só demasiado perfeita, demasiado esquematizada. E isso fazia-me ter medo que a minha vida não fizesse sentido.
Ela: Desculpa, não entendi.
Ele: Sentia que com ela ao meu lado nunca iria crescer.
Ela: Cresceste sem ela?
Ela: Não sei.
Ela: Tens saudades? De quê?
Ele: Da força dela. De como conseguia fazer-me acreditar que a vida vale a pena.
Ela: Já não vale?
Ele: Sempre lhe disse que se ela me deixasse nunca mais reconstruiria a minha vida. E isso, pelo menos, cumpri.