segunda-feira, novembro 20, 2006

Diálogos pueris XIV

Ele: Conheci o gajo que anda com ela.
Ela: E então?
Ele: É psicólogo!
Ela: Mas falaste com ele?
Ele: Claro! Começou logo a falar da infância...
Ela: (risos)
Ele: Mandei-o logo parar!
Ela: Que simpático! (risos)
Ele: Claro! Disse-lhe que conhecia bem os truques da psicologia e que se ele queria que eu falasse da minha infância eu podia falar sem ter que ficar a ouvir a dele!
Ela: E falaste?
Ele: Achas?!
Ela: Então, falaram de quê?
Ele: Perguntei-lhe qual é o denominador comum das relações dele...
Ela: E ele?
Ele: Ficou a olhar para mim.
Ela: E?
Ele: Topei-o logo! Dei a resposta por ele.
Ela: Qual é a resposta?
Ele: Disse-lhe que ele se fartava depressa das pessoas.
Ela: Ele concordou?
Ele: Claro.
Ela: É o clássico da mistura entre o lado profissional e o pessoal?
Ele: Completamente!
Ela: Quando deixa de ter uma pessoa para salvar perde o interesse?
Ele: Exactamente!
Ela: O que quer dizer que não acreditas na relação deles...
Ele: Não.
Ela: E isso deixa-te feliz?
Ele: Obviamente.

Diálogos pueris XIII

Ele: Há quanto tempo comecei a contar-te histórias de mulheres umas a seguir às outras?
Ela: Hmmm, não sei.
Ele: Há dois anos, mais ou menos, não foi?
Ela: Não sei, a sério. Mas sim, houve uma altura em que não eras assim. Ou, pelo menos, não contavas...
Ele: Eu não era assim! Por que achas mudei?
Ela: Não faço a mais pequena ideia.
Ele: Mudei há dois anos quando descobri que ela andava com três gajos ao mesmo tempo. Comigo, quatro. Sei que não é desculpa, mas nunca mais ficas igual...
Ela: Ficas como?
Ele: Como tu vês. Nem foi a traição que me mudou - sou relativamente tolerante em relação a isso. Foi a mentira. Não suporto a mentira!
Ela: Que mentira?
Ele: Quando, por mero acaso, descobri tudo, ela pediu desculpa, chorou, disse que não voltava a acontecer. Três meses depois percebi que estava tudo igual. E ela a insistir que não!!!
Ela: Podias ter acabado nessa altura...
Ele: Pois podia...
Ela: Mas não acabaste...
Ele: Pois não...
Ela: Porquê?
Ele: Não sei. Mas acho que foi nessa altura que perdemos o respeito um pelo outro. Deixámos de nos conseguir ver por dentro, de nos valorizarmos. Ambos dormíamos com outras pessoas, ambos sabíamos... e nenhum dizia nada...
Ela: Até que ela se cansou disso...
Ele: Sim...
Ela: Se calhar, ainda vais agradecer ela ter acabado...
Ele: Já estou a agradecer. Agora quero assentar. Quero casar e ter filhos, sabes?
Ela: Não.
Ele: Não?!
Ela: Queres casar e ter filhos com quem?
Ele: Ainda não sei. Estou tão carente que tenho medo de me prender à primeira mulher que me der atenção... mas é mesmo isso que eu quero...
Ela: Tu?! E achas que vais conseguir?
Ele: Claro!
Ela: Um amor exclusivo e para sempre?
Ele: Sim. Seduzir é bom, fortalece o meu ADN físico. Mas agora estou só interessado no ADN da alma.

Diálogos pueris XII

Ela: Achas que a maior parte das pessoas vive a vida pela metade?
Ele: Estás a falar só de relações-a-dois?
Ela: Sim.
Ele: Mas isso é óbvio, não é?
Ela: Não sei... não...
Ele: Porra! Há anos que me fazes essa pergunta e há anos que te dou a mesma resposta! Não!!! Não há relações perfeitas! Não há contos de fadas! Não há ninguém que se encaixe completamente no nosso ideal! Não há dias inteiros felizes! Nem semanas, nem meses...
Ela: Mas tu disseste que estavas apaixonado...
Ele: E estou. E daí?
Ela: E isso não te faz ver as coisas de outra forma?
Ele: Estás a perguntar se vou deixar de paquerar outras mulheres?
Ela: Sim... isso também...
Ele: Não percebo! Juro que não percebo! Tu continuas a mesma palerma de sempre!
Ela: Vá, olha o insulto!...
Ele: Ó pá, a sério! Não vou deixar de dormir com outras mulheres porque isso não existe, entendes?!
Ela: Não...
Ele: Não existe, porra! O que existe é uma de duas opções: ou te entendes sexualmente em casa e procuras cumplicidade intelectual fora de casa ou o contrário. E o contrário é bem mais fácil de conseguir. E mais habitual!
Ela: É isso que tu fazes?
Ele: Tu sabes que sim...
Ela: E consegues ser feliz assim?
Ele: É a felicidade possível. Não há outra. Para ninguém. A monogamia não existe!
Ela: O que acabaste de dizer é...
Ele: ... É horrível, eu sei! Para a tua cabecinha é horrível. Mas quantas pessoas ambos conhecemos, por exemplo, que vão às putas ou que têm necessidade de foder, pelo menos uma vez por semana, com travestis?
Ela: Ninguém! Eu não conheço ninguém.
Ele: Isso é o que tu pensas! Conheces muitas mais pessoas do que julgas!
Ela: Estás doido!
Ele: As pessoas nunca contam o lado mais obscuro da sua vida. E acredita que toda a gente tem um.
Ela: O que prevalece sempre para lá disso tudo?
Ele: No meu caso?
Ela: Sim.
Ele: As minhas filhas.