domingo, julho 05, 2009

Diálogos pueris XXIX

Ela: Nunca te divorciaste mesmo, pois não?
Ele: Estamos separados há mais de dez anos, mas apresentamos o IRS em conjunto, se é isso que queres saber.
Ela: Não era isso que queria saber...
Ele: Achámos que era o melhor para o puto. Não sei se é ou não, mas para já resulta e o meu filho é lindo e equilibrado. Nestas coisas da vida ninguém pode ter certezas.
Ela: Tu podias ser mesmo feliz, sabes?
Ele: Não sei, não...
Ela: E não és porque queres sempre tudo!
Ele: Sou imperfeito, lamento.
Ela: Toda a gente sabia que não eras divorciado. E tu dizias-lhe que eras.
Ele: Disse que era separado... ou divorciado, sei lá. Sou um parvo!
Ela: És parvo... sobretudo contigo.
Ele: Ok. Sou um idiota incorrigível!
Ela: Queres que as pessoas gostem de ti, mas depois, se elas gostam...
Ele: Eu sei, já sei o que vais dizer, mas olha...
Ela: ...se percebes que elas gostam mesmo de ti, que fazem tudo por ti, que te querem entregar a vida, desatas a fugir para a próxima.
Ele: Eu sei. Mas tenho sofrido bastante e nunca me vou perdoar pela maneira como a tratei.
Ela: Estás a sofrer, tu?!
Ele: Estou, a sério que estou.
Ela: E ainda vais sofrer mais...
Ele: Pois vou. Está escrito nas estrelas. Sou um aleijado emocional, lamento.

domingo, abril 05, 2009

Diálogos pueris XXVIII

Ele: Estou solteiro outra vez.
Ela: Desculpa?!
Ele: Eu explico-te, se quiseres.
Ela: Quero.
Ele: Acabámos. Foi tudo muito civilizado. Mas nem por isso mais agradável.
Ela: Podes ir directo ao assunto, please?
Ele: Eu fui horrível nos últimos tempos. Ela pediu-me em casamento e eu disse que não.
Ela: Ela pediu o quê?!
Ele: Eu sei que é ridículo, mas não te rias.
Ela: Não estou a rir.
Ele: Foi um momento terno, fazia todo o sentido.
Ela: Eu achei que tu querias mesmo ficar com ela...
Ele: E queria. Mas sempre achei que ela precisava de outra pessoa, mais nova... Repara, eu gosto mesmo dela... talvez por isso...
Ela: Que grande treta isso!
Ele: Bom, se vais falar em treta...
Ela: Desculpa, mas claro que vou! Isso da idade não faz sentido nenhum!
Ele: Sinceramente, é o que eu acho.
Ela: Mas porquê? Há tabelas agora?
Ele: Pois, já descobri que estou errado. Mas era o que eu pensava. Juro!
Ela: Podes namorar, podes ir para cama, podes viajar, podes tudo com uma pessoa mais nova, mas ficar para sempre com ela é que não! Isto faz algum sentido?????
Ele: Há muitos anos que ninguém me tocava como ela. Basicamente, fui um idiota, eu sei. Mas agora, olha, já temos outras pessoas em vista.
Ela: Hã?! Tu acabaste de me dizer que estavas solteiro outra vez. Como é possível já teres outra pessoa em vista e ela supostamente também?
Ele: Eu sempre tive outra pessoa, porra!
Ela: Hã?!
Ele: Eu não presto. Mas não quero que ela saiba isso.
Ela: Como sempre tiveste outra pessoa?????
Ele: Sempre mantive um relacionamento com aquela minha colega, já te falei dela várias vezes.
Ela: Diz-me que estás a brincar...
Ele: Porra, não devia ter contado. E não quero que tu lhe contes, ouviste?
Ela: Eu não vou contar nada! Eu mal a conheço!
Ele: Já basta eu ser uma besta!
Ela: Já basta eu saber. Fico triste. Achei que tinhas mudado.
Ele: Pois, não estás mais triste do que eu.
Ela: Pois, acredito.
Ele: Entretanto, meti na cabeça que era errado o que estava a fazer. E terminei tudo com uma num dia e tudo com outra no dia a seguir. Mas custa para caralho!

quinta-feira, março 05, 2009

Diálogos Pueris XXVII

Ele: Pronto, acabámos.
Ela: Estás a brincar?!
Ele: Sério!
Ela: Mas porquê?
Ele: Não podia dar-lhe o que ela queria. Uma vida tranquila, com filhos e essas coisas. Era errado continuar a alimentar-lhe ilusões, percebes?
Ela: Não...
Ele: Mas continuo a gostar muito dela...
Ela: Não percebo como é que as coisas contigo mudam sempre tão depressa...
Ele: Pois, percebi que o que sinto é uma coisa tipo protecção, mas não amor.
Ela: Hmmm, fico triste. Pela primeira vez gostei de uma namorada tua.
Ele: Então, e a anterior? Na altura, também disseste que tinhas gostado dela...
Ela: E gostei. Era simpática e tal, mas sem um décimo da pinta desta!
Ele: Engraçado. Esta teve ciúmes teus quando te conheceu.
Ela: Ui...
Ele: Percebeu que havia alguma tensão, não sei...
Ela: É burra! Achei que finalmente tinhas encontrado alguém melhor do que eu... (Risos) Estou a brincar!
Ele: Eu sei, querida.
Ela: Reata lá isso, não sejas parvo!
Ele: Não dá.
Ela: Mas porquê? Ela encostou-te à parede, foi? Essa coisa dos filhos...
Ele: Sim.
Ela: Mentiroso! Estás a inventar pretextos. Ela é muito nova. Não ia stressar com isso.
Ele: Não a conheces.
Ela: Pois não, mas conheço as mulheres.
Ele: Adoro-a. Mas não dá!
Ela: Para ti nunca dá quando percebes que alguém gosta de ti a sério.
Ele: Não te preocupes, ela já tem alguém em vista. E eu também.
Ela: Não me lixes! Parece que vão só mudar de casa!
Ele: Mas é verdade.
Ela: Se é verdade, então isso entre vocês era uma grande tanga!
Ele: Tu estás a dizer isso porque precisas deseperadamente de acreditar no amor.
Ela: Não preciso acreditar, acredito mesmo. Vá lá, tu andavas tão feliz, reata lá isso com a tua namorada…
Ele: Ex-namorada.
Ela: Não me conformo.
Ele: Pois conforma-te! Eu já me conformei.
Ela: Num dia apareces-me aqui a morrer de amor. No outro dia, afinal , já nunca foi amor, era só protecção. Não entendo. Juro.
Ele: É a vida. E não é verdade isso. Gostei e gosto muito dela.
Ela: Hmmm... então, foi ela que acabou?
Ele: Não! Nem ela nem eu.
Ela: Então?
Ele: Decidimos tudo com muita calma e tivemos até uma última noite. De manhã, a separação.