segunda-feira, novembro 20, 2006

Diálogos pueris XII

Ela: Achas que a maior parte das pessoas vive a vida pela metade?
Ele: Estás a falar só de relações-a-dois?
Ela: Sim.
Ele: Mas isso é óbvio, não é?
Ela: Não sei... não...
Ele: Porra! Há anos que me fazes essa pergunta e há anos que te dou a mesma resposta! Não!!! Não há relações perfeitas! Não há contos de fadas! Não há ninguém que se encaixe completamente no nosso ideal! Não há dias inteiros felizes! Nem semanas, nem meses...
Ela: Mas tu disseste que estavas apaixonado...
Ele: E estou. E daí?
Ela: E isso não te faz ver as coisas de outra forma?
Ele: Estás a perguntar se vou deixar de paquerar outras mulheres?
Ela: Sim... isso também...
Ele: Não percebo! Juro que não percebo! Tu continuas a mesma palerma de sempre!
Ela: Vá, olha o insulto!...
Ele: Ó pá, a sério! Não vou deixar de dormir com outras mulheres porque isso não existe, entendes?!
Ela: Não...
Ele: Não existe, porra! O que existe é uma de duas opções: ou te entendes sexualmente em casa e procuras cumplicidade intelectual fora de casa ou o contrário. E o contrário é bem mais fácil de conseguir. E mais habitual!
Ela: É isso que tu fazes?
Ele: Tu sabes que sim...
Ela: E consegues ser feliz assim?
Ele: É a felicidade possível. Não há outra. Para ninguém. A monogamia não existe!
Ela: O que acabaste de dizer é...
Ele: ... É horrível, eu sei! Para a tua cabecinha é horrível. Mas quantas pessoas ambos conhecemos, por exemplo, que vão às putas ou que têm necessidade de foder, pelo menos uma vez por semana, com travestis?
Ela: Ninguém! Eu não conheço ninguém.
Ele: Isso é o que tu pensas! Conheces muitas mais pessoas do que julgas!
Ela: Estás doido!
Ele: As pessoas nunca contam o lado mais obscuro da sua vida. E acredita que toda a gente tem um.
Ela: O que prevalece sempre para lá disso tudo?
Ele: No meu caso?
Ela: Sim.
Ele: As minhas filhas.

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